IFOAM: A voz do movimento orgânico global.

PorWalter Ribeiro

IFOAM: A voz do movimento orgânico global.

 O principal órgão regulamentador do segmento orgânico no mundo, fala para o mercado brasileiro.

O Catálogo Nacional realizou uma entrevista exclusiva com a Diretora Executiva da IFOAM, a Sra. Louise Luttikholt para esclarecer dúvidas e apontar as tendências do segmento de produtos orgânicos a nível mundial.

Fundada em 1972, o IFOAM é o único Órgão Internacional voltado ao mundo orgânico e aglomera uma diversificada gama de várias partes interessadas em desenvolver a visão orgânica em todo o mundo.

Os colaboradores do IFOAM trabalham em prol da verdadeira sustentabilidade na agricultura, desde a semeadura no campo passando pela cadeia produtiva até chegar ao consumidor final. A missão do IFOAM envolve a conscientização do público a defesa de políticas sustentáveis, a capacitação e a facilitação da transição dos agricultores convencionais para a agricultura orgânica. Tudo é feito para fortalecer o movimento orgânico e levá-lo adiante.

 

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CN – O que exatamente é a IFOAM – Organics International e qual a sua função no desenvolvimento mundial de produtos orgânicos.

LL | IFOAM – Trabalhamos em direção à verdadeira sustentabilidade na agricultura, desde o campo até a cadeia produtiva até o consumidor. Com mais de 820 membros em mais de 127 países, somos a voz do movimento orgânico global. Unida sob a missão “Liderando a mudança, organicamente”, nossa organização facilita o desenvolvimento de capacidade para produção sustentável, lidera campanhas de divulgação que incentivam os consumidores a comprar mais produtos orgânicos e aumenta a conscientização no nível político em torno da necessidade de integrar agricultura sustentável a políticas relacionadas à segurança dos alimentos, proteção da biodiversidade e mitigação das mudanças climáticas. Para alcançar nosso objetivo, treinamos uma nova geração de líderes orgânicos em nossa Academia Orgânica, promovemos alternativas à certificação adaptadas às diversas necessidades dos agricultores e implementamos projetos que apoiam a conversão de agricultores à agricultura orgânica. Fortalecemos cadeias de fornecimento orgânicas, capacitamos as partes interessadas locais e aumentamos a conscientização da comunidade em torno do orgânico.

CN – Qual é a relação da IFOAM – Organics International com a BIOFACH?

LL – IFOAM – Somos o patrocinador internacional da BIOFACH. Trabalhamos ao longo do ano com a equipe de planejamento de exposições da BIOFACH para organizar e promover sete feiras da BIOFACH em todo o mundo. Para cada feira da BIOFACH, a IFOAM – Organics International, envia um de seus membros para se conectar pessoalmente com interessados ​​orgânicos. Para fomentar o diálogo e o intercâmbio dentro do setor, a IFOAM – Organics International também organiza um seminário internacional, que acontece paralelamente aos estandes de exposição da BIOFACH.  Agora,por exemplo, na BIOFACH Nuremberg 2019, examinamos os efeitos dos alimentos orgânicos na saúde, explorando sua ligação inseparável com o solo, as plantas, os animais, as pessoas e o planeta. Temos o orgulho de apoiar a BIOFACH e estamos ansiosos pela troca de informações que teremos na BIOFACH AMÉRICA LATINA – BIO BRAZIL FAIR!

 

CN – Como o IFOAM – Organics International vê o crescimento orgânico no Brasil e no mundo?

LL – IFOAM – A agricultura orgânica está aumentando em todo o mundo, inclusive no Brasil. Ao mesmo tempo, a porcentagem total de orgânicos ainda parece baixa em 1,4%. No entanto, existem lugares no mundo que já se transformaram em um paraíso verde, com a maioria dos agricultores da região praticando agricultura orgânica e agroecológica. Isto é verdade para lugares na Europa, particularmente na Áustria e Dinamarca, bem como em alguns estados indianos que fizeram a transição ou estão em transição para 100% orgânicos. Estes desenvolvimentos mostram o potencial do orgânico: uma vez que atinge um ponto de inflexão, há uma transição para a verdadeira sustentabilidade de comunidades e regiões inteiras.

Atualmente no Brasil, 114.306 hectares de terra são manejados organicamente, o que representa 0,4% da participação agrícola total do país. Com apenas meio por cento, o orgânico brasileiro, no entanto, fornece renda para mais de 15.000 produtores! Muitos desses produtores estão organizados em um dos 24 Sistemas Participativos de Garantia ou através de uma das 368 Organizações de Controle Social. Por meio desses sistemas, os agricultores orgânicos podem oferecer produtos produzidos por meio da agricultura familiar para um mercado em crescimento.

Ainda mais significativo é a importância por trás desses números, que mostra como a agricultura orgânica tem contribuído cada vez mais para os objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Esses números representam renda para os agricultores, acesso a alimentos saudáveis para os cidadãos, água limpa e preservação da biodiversidade.

CN –  Que estratégias o IFOAM – Organics International recomenda para aumentar o consumo de alimentos orgânicos e outros alimentos saudáveis?

LL – IFOAM – Nos últimos anos, observamos uma maior conscientização sobre a alimentação como um bem cultural e social. Para aproveitar esse momento, a IFOAM – Organics International planeja lançar uma campanha global de relações públicas conhecida como Honest Food (“Comida Honesta”) em meados de outubro de 2019, em colaboração com empresas, marcas, governos e ONGs com ideias afins. Como vivemos em um mundo onde a comida é confusa – ela é pulverizada com substâncias químicas nocivas que prejudicam a saúde, a vida selvagem e o meio ambiente -, a campanha Honest Food quer que o mundo coma de maneira mais sustentável. Comida honesta é comida simples e direta, sem nada a esconder. É cultivado em harmonia com a natureza e paga aos agricultores um preço justo. Ao optar por alimentos mais orgânicos, locais, de comércio justo e sem carne, o Honest Food é uma maneira fácil para as pessoas fazerem o bem. Nos próximos meses, a campanha Honest Food lançará um kit de ferramentas digitais que servirá de base para que quaisquer pessoas ou organizações desenvolvam seus próprios materiais de campanha do Honest Food. Esperamos que os produores latino americanos se juntem às nossas atividades!

CN – Que aspecto o IFOAM – Organics International considera o maior impedimento ao crescimento do mercado orgânico – cultural ou financeiro?

LL – IFOAM – Falar sobre aspectos financeiros é bom. No entanto, devemos garantir que incluamos todas as externalidades positivas e negativas dos custos de produção de alimentos. Através da “verdadeira contabilidade de custos”, vemos que a maior parte dos alimentos atualmente tem um grande custo – custo para nosso meio ambiente e saúde, bem como o custo que impomos às gerações futuras. Se olharmos atentamente, vemos que, quando compramos alimentos baratos e convencionais, pagamos três vezes – uma vez no balcão do supermercado, uma vez para limpar os danos ambientais (por exemplo, nossa água potável) e uma vez com a saúde, o que resulta em aumento da assistência médica e isso gera mais custos. Em alguns lugares ao redor do mundo, nosso dinheiro dos impostos também é usado para subvencionar fertilizantes químicos. E quem paga o custo social das áreas rurais abandonadas e do campo? É minha conclusão que o atual cenário político em que os agricultores são obrigados a operar é, na verdade, o maior impedimento ao crescimento do mercado orgânico. Se considerarmos todos os custos, os produtos orgânicos são realmente mais baratos e mais benéficos para a sociedade do que os produtos convencionais. Por último, acreditamos que a “cultura” da agricultura deve ser colocada em primeiro plano, porque esse é o aspecto que liga as comunidades e as sociedades. O que é mais valioso do que saborear uma refeição feita com produtos locais e orgânicos com a família e amigos? 

Agradecemos ao empenho e a dedicação da Coordenadora Internacional de Vendas da América Latina da BIOFACH | NürnbergMesse Brasil a Sra. Maria Valle e a Coordenadora de Comunicações da IFOAM – Organics International a Sra. Nicole Kruz por viabilizar a realização desta entrevista.

Fonte: Redação – Espaço Orgânico e Natural