O varejo e seus fornecedores têm vivido consistente processo de metamorfose ao longo do tempo e têm se transformado em muitas dimensões.
De dentro para fora, como processo evolutivo natural pela incorporação do digital e da tecnologia para se manter competitivo e em busca da melhoria constante de resultados.
De fora para dentro, como resposta às mudanças que ocorrem no ambiente de negócios precipitadas pela evolução natural do comportamento, desejos e anseios dos omniconsumidores.
Metamorfose vem do grego metamorphosis e é um termo utilizado para designar transformação de algo ou alguma coisa em outra, ou ainda expressar profunda ou completa mudança no estado ou caráter de uma pessoa.
Mas podemos considerar que metamorfose pode também ocorrer num setor ou segmento de negócios.
No começo, eram os próprios artesãos que produziam selas, móveis, armas, vestimentas ou qualquer outro produto e vendiam diretamente aos consumidores finais e integravam produção e distribuição com sua marca.
Na evolução, os produtores concentraram-se em produzir e surgiram intermediários, comerciantes ou varejistas, que distribuíam esses produtos nos mais diversos locais, levando-os até os consumidores ou atendendo-os nos mercados.
A ampliação, multiplicação e dispersão geográfica e temporal dos consumidores precipitou a expansão das atividades dos comerciantes e varejistas que também se especializaram, segmentaram e passaram o operar diferentes formatos, canais, conceitos e alternativas para atender o mercado em escala global.
Com o tempo, desenvolveram marcas próprias para se tornarem mais competitivos e se diferenciarem. Depois, ampliaram as alternativas de canais e modelos de relacionamento com os consumidores, individualizando atendimento, algo só possível pela ampliação das alternativas tecnológicas e digitais.
E organizações globais como Zara, Primark, Uniqlo, Ikea e muitas outras avançaram em seus modelos com integração vertical de processos produtivos a partir dos negócios de varejo.
Ainda mais recentemente, incorporaram serviços, integrados com produtos para gerar soluções para atender níveis mais altos de expectativas de consumidores com mais alternativas de escolhas.
Com o tempo, os produtores se deram conta que era necessário repensar sua estratégia de forma mais ampla pressionados pelo aumento do poder do varejo dominando o conhecimento, conexão direta e relacionamento com o consumidor e avançando nos temas das marcas próprias e dos serviços e soluções integrados.
Isso precipitou uma volta ao passado, com os produtores reconectando com os consumidores e a expansão da alternativa DTC (Direto ao Consumidor), o que a tecnologia e o digital tornaram mais fácil, menos oneroso, mais interessante e com melhor retorno de investimento.
Os exemplos globais de Nestlé com Nespresso (mais de 50% das cápsulas vendidas diretamente através do e-commerce), Apple, Ralph Lauren, Nike, Adidas e muitas outras são exemplos fortes da integração virtuosa de produtos, marcas, conceitos, formatos, canais e serviços.
E os marketplaces, mais recentemente, criaram o mercado ideal e o maior estímulo para a expansão dessas alternativas.
E o que temos visto é o crescimento marcante das marcas indo direto aos consumidores, como forma de criarem conexão e diferenciação, ante o forte crescimento do protagonismo e concentração do varejo nos diversos segmentos e mercados.
Esse amplo processo de metamorfose que ocorre com o varejo e seus fornecedores de produtos redesenha a realidade e sinaliza um cenário de crescente aumento da competitividade, pressão sobre a rentabilidade, concentração no varejo e no fornecimento.
Tudo isso, ao mesmo tempo, amplia o processo de empoderamento dos consumidores pelo aumento exponencial de alternativas e ofertas de produtos, marcas, canais, serviços, formatos, horários e locais de escolha e compra.
Ao final e de forma simplista, a metamorfose do varejo e da indústria fornecedora precipita a transformação de forma direta e significativa dos consumidores, que vivem sua própria metamorfose pela ampliação das alternativas de escolhas, seu conhecimento, atualidade e volume de informação e, principalmente, sua evolução comportamental e seu nível de maturidade como consumidor.
Metamorfoses que geram metamorfoses. Talvez, uma área só coberta pela biologia dos negócios.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
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Fonte: Mercado & Consumo